07/02/09

Passado Meu

Afoguei-me num mar de lamentações e deixei que a força de todas as palavras que não te disse me puxassem para o fundo de um mar que desconheço e do qual não sei a profundidade. Deixei que me levassem para longe onde meus pensamentos fossem livre de voar sobre o céu estrelado de uma noite de verão. Meu barco partiu a muito, e agora temo não mais poder fugir, sorri, olhei para o fim do meu caminho e pensei, mil iguais a este pode haver, só vontade de mudar tenho que ter.
Estava realmente apaixonado. Havia tanto para ser dito e escrito, tantas palavras possíveis de se dizerem, mas uma única dificuldade existia. Somos ambos imutáveis. Ris-te de minhas infantis palavras e de minha péssima construção frásica, mas o que realmente te perturba é que não podes fugir a verdade. Fui teu e de mais ninguém, sonhei em teus braços estar todo sempre, em teus cabelos e lábios me envolver e me perder. Mas o que tudo juntou, tudo separou. As palavras são como uma espada de dois gumes, o que fez florescer amor e carinho abriu meu coração e teu, para todo sempre. Tais palavras afastaram o que de mais puro tínhamos. Sim, lembro como se fosse hoje, minhas mãos tremiam de ansiedade, meus joelhos ameaçavam ceder a qualquer momento, tinha passado o dia todo a tentar ganhar coragem, e quando finalmente ganhei, foi único, magnífico, jurei a mim mesmo repetir tal momento mil vezes, aquele primeiro beijo.
O que um dia foi mágico transformou-se apenas numa memória triste de um passado imperfeito, sem oportunidade para mudar. O amor intenso que entre nós crescia, como uma árvore regada com afinco, desapareceu. E com ele meu primeiro amor. Fui um dia tudo para ela, mas acredito ser nada mais que uma vulgar pessoa a quem nada exigimos, a quem a nossa atenção apenas é concebida por meros segundos e a quem pouca confiança concebemos. É pena mas tudo que somos e fazemos, é reflectido por nossas decisões e escolhas pessoais, e as nossas afastaram de mais nossos pobres corações que não mais queriam que um puro amor de adolescência. Os sinos cessaram a sua melodia e com eles toda a comitiva partiu. Mas eu permaneço.
Sou nada mais do que um inalterável ser, a espera do seu próprio crepúsculo, para por fim cessar e partir para a terra onde o nunca é presente, e o céu é nublado. Nem tudo devia ter um fim. Nem tudo devia partir para nunca mais voltar. Nem todos deviam amar, para depois sofrer. Eu abro-me no fim. Mas o fim ainda não prevaleceu. Existe muito mais para escrever, muito mais para sentir. Por agora não sou mais do que os velhos retalhos que continuo a coleccionar da minha ínfima existência.

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