01/03/09

Rei do Tempo [2/3]

O dia morria no horizonte, e em minha cabeça varias ideias se formavam como imagens em minha mente, que me faziam imaginar cenários quase impossíveis, eu não tinha voltado porque queria, mas tinha ouvido sim o chamamento de minha terra. Já não era novo, apesar da experiência que acarreta a velhice, eu não gostava muito de envelhecer, mas nada podia fazer para o impedir, era natural e incontrolável. Recordei mais uma vez os momentos de minha infância, imaginei me a correr a volta da casa de meus pais, como se alguém supostamente invisível me perseguisse, foram esses anos de ouro para mim onde sorrisos eram tão normais como acordar para um dia agradável, minha mãe era um poço de bondade preenchia toda a minha cara de beijos, e carinhos, meu pai talvez mais rabugento, corria atrás de mim quando eu tinha a bola em minha posse, e eu nada mais do que sorrir fazia, era tão bom aquele estado de alegria, aquela sensação de estar completo, talvez até preenchido. Infelizmente essa sensação perdeu-se no tempo, desvaneceu para o vazio, tal como meus pais, posso afirmar que morreram felizes e completos, mas deixaram saudade, e talvez alguma mágoa por terem partido como sempre, tão prematuramente. Minhas forças já há muito se tinham esgotado, já não possuía a mesma pujança que antigamente, e já era difícil aguentar-me muito tempo de pé, mas resisti, aquele plano de fundo era magnífico, era como se toda a minha vida estivesse retida naquela imagem, como se aquele fosse o único fio, que prendia minha vida a este planeta sórdido e imutável. Tudo tinha sido tão imperfeito, e não havia maneira de o alterar, não havia como voltar atrás, era um sonho impossível, por isso decidi afastar isso de meus pensamentos, estava sozinho agora, há muitos anos estava, sempre fui uma pessoa solitária, gostava de fazer as coisas dessa maneira. Mas talvez pudesse ter feito outras escolhas, como beijar Eliana no quarto ano, sorri, foram um bom momento do passado, mas podia ter optado por ficar na minha terra com minha família, em meu lar, mas não, eu queria fugir para uma dita civilização que era tudo menos isso, que não passava de uma alcateia de lobos que se matavam, se possivel, por um naco de carne. Uma civilização que jogava sujo, e não respeitava ninguém, onde o caos reinava, e o dinheiro era usado como isco em tudo, e que apesar de a presa saber qual era o isco, caía sempre, por gosto. Podia ter alterado várias de minhas escolhas que agora para mim parecem incompreensíveis. Uma lágrima atravessou meu rosto, como um cavalo atravessa o prado, chorei por não poder ter assistido a morte de minha mãe, meu ombro, meu coração destroçado ficará nesse dia, e não mais voltara a recompor-se, até hoje. Voltei a sentar me a porta de meu leito, meu ninho.
Já sofrera tanto, longos anos após a morte da minha mãe foi a vez de meu pai, que caiu para outras barreiras a procura de minha mãe, e mais uma vez acolhi a dor em meu coração, mas voltei a erguer-me. Depois conheci-a. Tão bela, tão fantástica, doce e intrigante. Conhecemo-nos num parque da cidade, eu passava calmamente embrulhado em pensamentos acerca de um doente que tinha, e ela dava uma visita de estudo, a uns rebentos de onze anos, ensinava-lhes a importância das árvores no mundo actual, parei por instantes, e observei-a, nossos olhos se encontraram no meio daquela confusão de perguntas, e ela sorriu-me e prosseguiu a visita.

5 comentários:

Obrigado pela opinião. : p