01/04/10

Pedaços Concretos;

Mantive-me seguro mas discreto, como se o meu mundo fosse apenas aquele. Todos passavam por mim, mas ninguém se dava sequer ao trabalho de me observar. E eu ria, não por gozo, mas ria em jubilo, pois eu era a minha própria imagem, sem deslumbramentos, sem restos insanos de amargura, de dor. Eles continuavam a caminhar pelas gélidas ruas numa marcha ornamentada, e eu passava na direcção contrária, nu de preconceitos, nu de sentimentos, sem ter o mínimo pedaço de sofrimento. Ao contrário de muitos quando me olhava ao espelho via uma rapaz seguro de si mesmo, sem medo de explorar qualquer caminho, sempre com vontade de viver mais e mais , como se amanhã fosse o último dos dias mas ao mesmo tempo, meus olhos transpiravam saudade, não só da felicidade extrema, dos sorrisos perfeitos e das gargalhadas no ninho, mas saudade do passado que tinha até então sido partilhado com outros, que agora porém tinham se deixado desvanecer por de trás da bruma, escondendo a sua dor com casacos invisíveis, pensando que eu não conseguiria perceber. Enfim, nós somos fruto das nossas escolhas, cada um tem a oportunidade de escolher por entre vários caminhos e pareceu-me naquela altura, que esses escolheram outro caminho que não o meu. Não sofro de quaisquer ressentimentos, porém preferia que tal não tivesse acontecido que a chama não continuasse a extinguir-se com está agora. Há sempre tempo para voltar atrás.

"Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena."

Fernando Pessoa

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